Segundo
Mircea Eliade, definir mito é uma realidade cultural extremamente complexa, que
pode ser abordada e interpretada em perspectivas múltiplas e
complementares....o mito conta uma história sagrada, relata um acontecimento
que teve lugar no tempo primordial, o tempo fabuloso dos começos...o mito conta
graças aos feitos dos seres sobrenaturais, uma realidade que passou a existir,
quer seja uma realidade tetal, o Cosmos, quer apenas um fragmento, uma ilha,
uma espécie vegetal, um comportamento humano, é sempre portanto uma narração de
uma criação, descreve-se como uma coisa foi produzida, como começou a existir. Mircea
Eliade, Aspectos do Mito, pág12/13
O mito só
fala daquilo que realmente aconteceu do que se manifestou, sendo as suas
personagens principais seres sobrenaturais, conhecidos devido aquilo que
fizeram no tempo dos primordios. Os mitos revelam a sua atividade criadora e
mostram a “sobrenaturalidade” ou a sacralidade das suas obras. Em suma os mitos
revelam e descrevem as diversas e frequentemente dramáticas eclosões do sagrado
ou sobrenatural no mundo. É está “intormição” ou eclosão do sagrado(sobrenatural)
que funda, que dá origem ao mundo tal como ele é hoje. Sendo também graças à
intervenção de seres sobrenaturais que o homem é o que é hoje.
Ainda
segundo outras fontes, “o mito é considerado como uma história sagrada, e
portanto uma história verdadeira, porque se refere sempre a realidades. O mito
cosmogónico é verdadeiro porque a existência do mundo está aí para o provar, o
mito da origem da morte é também verdadeiro porque a mortalidade do homem
prova-o e pelo fato de o mito relatar as gestos dos seres sobrenaturais e
manifestações dos seus poderes sagrados, ele torna-se o modelo exemplar de
todas as atividades humanas significativas”.
A narração
mitológica envolve basicamente acontecimentos supostos, relativos a épocas
primordiais, ocorridos antes do surgimento dos homens (história dos deuses) ou
com os "primeiros" homens (história ancestral). O verdadeiro objeto
do mito, contudo, não são os deuses nem os ancestrais, mas a apresentação de um
conjunto de ocorrências fabulosas com que se procura dar sentido ao mundo. O
mito aparece e funciona como mediação simbólica entre o sagrado e o profano,
condição necessária à ordem do mundo e às relações entre os seres. Sob sua
forma principal, o mito é cosmogônico ou escatológico, tendo o homem como ponto
de intersecção entre o estado primordial da realidade e sua transformação
última, dentro do ciclo permanente nascimento-morte, origem e fim do mundo.
As
semelhanças com a religião mostram que o mito se refere ao menos em seus níveis
mais profundos a temas e interesses que transcendem a experiência imediata, o
senso comum e a razão: Deus, a origem, o bem e o mal, o comportamento ético e a
escatologia (destino último do mundo e da humanidade). Crê-se no mito, sem
necessidade ou possibilidade de demonstração. Rejeitado ou questionado, o mito
se converte em fábula ou ficção.